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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Síndrome do Mimimi



           Já ouviu falar da síndrome do mimimi ou do coitadismo? Pois bem, hoje falaremos sobre AUTOCOMISERAÇÃO.
Autocomiseração é o ato de ter dó ou piedade de si mesmo, um mergulho nas dores pessoais.
              Nos ocupamos com as nossas dores, sendo elas grandes, pequenas, reais ou imaginárias. Em algum momento da vida passamos por situações adversas como, o desamor que traz solidão, o desafeto que desumaniza, o assédio que ofende, o abuso que agride, a ofensa que magoa, a dependência que aprisiona e escraviza, a exposição que humilha, a desonra que fere, o julgamento que condena, a arrogância que aliena, o autoritarismo que intimida, a decepção que entristece, a expectativa que frustra, o desdém que desvaloriza, a desigualdade que empobrece, o desrespeito que desmoraliza, o desamparo que abandona, a negligência que descuida, a mentira que desabona, a calúnia que difama, a fofoca que macula, a perversão que corrompe, o terror que aflige, a injustiça que defrauda, o dano que lesiona, a hostilidade que afugenta, a perda que prejudica, o roubo que solapa, o luto que consterna, a morte que destrói, o fracasso que desqualifica, o materialismo que coisifica, a ausência que distancia, a rejeição que desabriga, o repúdio que descarta, a inflexibilidade que rotula, a intolerância que cega, o desprezo que repudia, a incompreensão que ignora, a diferença que incomoda, a indiferença que dessensibiliza, a exclusão que elimina, o preconceito que discrimina, o desinteresse que descarta, a deficiência que confina, a doença que limita.
              Situações como as descritas acima podem provocar angústias e um sentimento de falta de sentido da vida.
                  A autocomiseração é um mergulho nas dores pessoais num contínuo mimo próprio, em que assumimos o lugar de injustiçados. Passamos a nos desresponsabilizar por um lado, e por outro, a nos punir severamente com culpabilizações. Em estado de autocomiseração, assumimos que o lugar da culpa é sempre do outro, e que o socorro também deveria vir do outro. Desta forma, esperamos que algo venha e nos tire dessa angústia, e isso pode não acontecer. Em algumas situações talvez aguardemos o perdão do outro ou até mesmo que venham nos pedir perdão e por vezes nem têm o conhecimento de que nos magoaram ou nos feriram. Há também a possibilidade de nós mesmo assumirmos o papel de ofendidos e não perdoamos ao outro e nem a nós mesmos. E assim, seguimos nos punindo por expectativas não alcançadas ou por erros considerados imperdoáveis.

              A pena de si cresce nutrindo sentimentos tóxicos que contaminam e envenenam, afetando a nossa capacidade de amar, trabalhar e socializar, ao mesmo tempo em que prejudica a nossa visão de mundo, do outro, de nós mesmos.
                 O autocomiserado assume uma postura de vítima de tudo e todos. Passa pela vida cobrando o que não foi recebido outrora, seja dos pais, irmãos, amigos, cônjuge, filhos, colegas, amigos etc. Cobra nos relacionamentos atuais as misérias deixadas pelos anteriores, transformando-se numa insaciável sanguessuga que carrega como lema principal “me dá, me dá, me dá” ou “mi mi mi”. Com autoestima fragilizada julga não ter o suficiente de amor, atenção e reconhecimento, seguindo refém das dores sofridas ao longo da vida, esgotando as energias e destacando as murmurações.
             Este processo faz com que sejam aumentadas as frustrações, raivas, irritações, desejos de vingança e, como resultado principal, mergulha ainda mais em autocomiseração. Em seu estado patológico, a autocomiseração pode apresentar sintomas em que sofrer gera certo prazer tornando-se um vício.
                A ressignificação das dores, traumas, situações pode levar o indivíduo a se reestabelecer, se fortalecer e perceber que e o autor da sua própria história, não deixando mais a sua vida nas mãos de outros, mas tomando a direção, se percebendo como um ser único, sustentando sua autoestima. 

Sarah Karina M. S. Lima
Psicóloga
CRP- 06/134797  

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